Efeitos da dieta Low Carb

2019-11-19T20:18:13-03:0019 de novembro de 2019|Estrategias dietéticas|

Artigo sobre Low Carb: Escrito por Sarah Arques e Felipe Donatto

As dietas pobres em carboidratos, popularmente conhecidas na internet como low carb, também na década de 70 como a dieta do Dr Atikins, South Beach, The Zone, Poder da Proteína, são dietas que ficaram famosas pelos resultados rápidos observados na balança e medidas corporais, porém sabe-se que essa perda de peso rápida, se dá pela de redução do níveis de glicogênio muscular e hepático, que em conjunto temos água intracelular, efeitos esses já conhecidos na literatura (OLSSON; SALTIN, 1970; SCHWARCZ; BERKOFF, 2006).

Não há uma definição única como uma fórmula de bolso para se classificar uma dieta “low carb”, já que o cálculo dependeria do valor calórico total (recomendações em %) e ou do peso corporal da pessoa (recomendações em g/Kg). Uma quantidade mínima de 120-130g de carboidrato ao dia é preconizado pelo OMS para manter as funções cerebrais normais, já que é um órgão que consome grandes quantidades de glicose (DRI, 2002; DRI, 2005). Entretanto, muitas dietas very low carbutilizam a referência de ingestão total de carboidratos inferior a 70 g/dia. A tabela a baixo foi retirada de um estudo que compilou diversas meta análises sobre dietas restritas em carboidratos, de acordo com o valor energético total da dieta em relação a quantidade de carboidratos presentes na mesma (WYLIE-ROSETT et al., 2013).

Descrição de Valor Definição 2000 calorias 1500 calorias 1200 calorias
Carboidrato muito baixo 21-70 g/dia 4-14% 6-19% 7-23%
Carboidrato moderadamente baixo 30-39.9% de energia 150-200g/dia 113-149g/dia 90-120g/dia
Carboidrato moderado 40-65% de energia 200-325g/dia 150-245g/dia 120-195g/dia
Rico em carboidratos >65% de energia >325 g/dia > 245g/dia >195g/dia

Fonte: Adaptado deWylie-rosett et al. (2013) Classificação alimentar baseada na quantidade de carboidratos.Health Effects of Low-Carbohydrate Diets: Where Should New Research Go? Current Diabetes Reporffts, New York U.s. A., v. 13, n. 2, p.271-278, 2013.

Com relação a sua aplicabilidade, essas dietas são utilizadas, em geral, em pessoas com diabetes ou insulina resistentes, situação em que o organismo possui um desiquilíbrio da metabolização de carboidratos. Um estudo de corte realizado em Israel em 2015, com 800 indivíduos, entre 18 e 70 anos, saudáveis e pré-diabéticos a resposta glicêmica em dietas personalizadas. Tal estudo mediu durante 1 semana os níveis de glicêmico pós-prandial também foram avaliados parâmetros sanguíneos, antropométrico, atividade física e comportamentos de estilo de vida auto-relatados, além de composição e função da microbiota intestinal.

A pesquisa evidenciou a necessidade de dietas personalizadas visto que o consumo de uma mesma dieta por diferentes indivíduos tem resposta glicêmica variável e fatores como função da microbiota intestinal e prática de atividade física tem interferência direta nessa resposta. Assim recomendações alimentares gerais podem ter eficácia limitada. O estudo representa um importante passo em direção a nutrição personalizada, prevendo resposta ao açúcar alimentar, bem como a importância da análise da resposta individual do organismo ao alimento (ZEEVI et al., 2015).

Os resultados demonstraram alta variabilidade interpessoal na resposta glicêmica pós-prandial individual para o mesmo alimento (ZEEVI et al., 2015), sendo que usar apenas o índice glicêmico para caracterizar um carboidrato “bom ou ruim” pode ser um erro. Saber a necessidade energética total, organizar a quantidade certa de carboidrato(g) em cada refeição e ajustar a carga glicêmica de uma refeição com vegetais, gorduras e proteínas é o caminho dentro da restrição calórica necessária para a perda de peso.

Dieta Low Carb – Prós
  • Redução de peso corporal (Kg) devido a desidratação dos músculos e restrição glicídica nas primeiras semanas (OLSSON; SALTIN, 1970)
  • Há estudos de melhora da performance em atletas submetidos a dietas de baixo carboidrato, causado pelas adaptações musculares e mitocondriais dos atletas a longo prazo(BURKE, 2011).
Dieta Low Carb – Contras
  • Não há evidências da eficiência de perda de peso à longo prazo, quando comparado a uma restrição calórica tradicional (JISSN, 2017).
  • As dietas com baixo carboidrato podem desencadear cetoacidose, gerada pelo metabolismo de gorduras na falta de carboidratos como energia, podendo causar náuseas, desidratação, tontura, fadiga e mau hálito GOMES; SILVA; WAJCHENBERG, 2013);
  • Pode causar queda de desempenho físico quando feita de forma errada (MICHALCZYK et al., 2018).

Dessa forma podemos concluir que não há uma fórmula única e específica para se reduzir carboidratos da dieta, é preciso levar em consideração diversos fatores do indivíduo como um todo. Portanto podemos destacar a importância do profissional nutricionista específico para realizar a conduta nutricional adequada às necessidades individuais.

Referências bibliográficas

1. Aragon et al. Journal of the International Society of Sports Nutrition (2017) 14:16.

2. BURKE, Louise M. Carbohydrates for training and competition. Journal Of Sports Sciences, Department Of Sports Medicine, Australian Institute Of Sport, Belconnen, Act, Australia, v. 1, n. 291, p.17-27, 2011.

3. Dietary Reference Intakes for Energy, Carbohydrates,Fiber, Fat, Fatty Acids, Cholesterol, Protein, And Amino Acids (2002/2005).

4. GOMES, Karla Fabiana Brasil; SILVA, Giordana Maluf da; WAJCHENBERG, Bernardo Leo. Rose Ferreira dos Santos: Maria Elizabeth Rossi da Silva. In: SAWAYA, Ana Lydia; LEANDRO, Carol Góis; WAITZBERG, Dan L.. Fisiologia da Nutrição: na Saúde e na Doença. São Paulo: Atheneu, 2013. p. 601.

5. MICHALCZYK, Małgorzata et al. No Modification in Blood Lipoprotein Concentration but Changes in Body Composition after 4 Weeks of Low Carbohydrate Diet (LCD) Followed by 7 Days of Carbohydrate Loading in Basketball Players. Journal Of Human Kinectis, Department Of Sport Nutrition, Academy Of Physical Education Im. J. Kukuczki In Katowice, Katowice, Poland., v.65,n.1,p.125-136,2018.

6. OLSSON, Karl‐erik; SALTIN, Bengt. Variation in Total Body Water with Muscle Glycogen Changes in Man. Acta Physiologica Scandinavica, From The Department Of Physiology, Gymnastik- Och Idrottshogskolan, And The Orthopedic Clinic, Karolinska Institutet, Stockholm, Sweden, v. 80, n. 1, p.8-11, 1970.

7. PERSONALIZED Nutrition by Prediction of Glycemic Responses. Israel, 2015. P&B. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hZWLy7FLvZ4&t=144s>. Acesso em: 10 out. 2019.

8. SCHWARCZ, Joe; BERKOFF, Fran. Alimentos Saudáveis Alimentos Perigosos: Dieta Pobre em Carboidratos. Rio de Janeiro: Readers Digest, 2006.

9. WYLIE-ROSETT, Judith et al. Health Effects of Low-Carbohydrate Diets: Where Should New Research Go? Current Diabetes Reports, New York U.s. A., v. 13, n. 2, p.271-278, 2013.

10. ZEEVI, David et al. Personalized Nutrition by Prediction of Glycemic Responses. Cell, [s.l.], v. 163, n. 5, p.1079-1094, nov. 2015. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.cell.2015.11.001.

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